Relações Ecológicas: O Que São e Quais os Tipos?

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia)
Última atualização em 19/05/2025
Introdução
A vida na Terra é um grande palco onde bilhões de atores (os seres vivos) interagem o tempo todo entre si, cumprindo papéis importantíssimos e de formas surpreendentes. Umas vezes cooperando, outras vezes disputando ferozmente. Mas, no fim das contas, tudo faz parte do mesmo espetáculo: as relações ecológicas.
Você já se perguntou como os animais vivem juntos na floresta? Ou como as formigas trabalham em equipe? Ou por que algumas plantas parecem competir pelo sol? Pois bem, todas essas interações fazem parte das relações ecológicas: conexões entre os seres vivos que moldam o equilíbrio da natureza.
O Que São as Relações Ecológicas e Como Funcionam?
Relações ecológicas são as interações que os seres vivos mantêm entre si, seja com indivíduos da mesma espécie (relações intraespecíficas), seja com indivíduos de espécies diferentes (relações interespecíficas). Essas relações são essenciais para a sobrevivência, adaptação e equilíbrio dos ecossistemas no nosso Planeta.
Beleza, como eu disse, existem dois tipos de relações ecológicas e, dentro de cada um, veremos as várias formas e jeitos que essas relações acontecem.
Relações Intraespecíficas X Relações Interespecíficas
Vamos começar nosso estudo diferenciando esses dois tipos de relações ecológicas de nomes bem parecidos (mas com significados bem distintos):
Relações Intraespecíficas: são aquelas entre indivíduos da mesma espécie. Basicamente é isso mesmo, todas as interações que acontecem entre indivíduos de uma mesma espécie.
Relações Interespecíficas: envolvem seres de espécies diferentes. Aqui é a mistura da natureza, quando cada indivíduo interage com outros que não pertencem à sua espécie.
Cada uma dessas relações pode ser harmônica (quando ninguém sai prejudicado) ou desarmônica (quando alguém leva a pior).
Agora vamos ver de que jeitos essas relações acontecem.
Relações Intraespecíficas: Unidos pela Espécie
1. Colônia – Juntos e Conectados
Na colônia, os indivíduos de mesma espécie vivem grudados uns aos outros, interagindo de forma mutuamente vantajosa, formando um organismo coletivo. Aqui, podemos ter uma colônia isomórfica (quando a galera é semelhante entre si) ou heteromórfica (quando são diferentes entre si). Exemplo: os corais são uma colônia de animais marinhos unidos por um esqueleto calcário. Outro exemplo: as caravelas portuguesas (o bicho, não o navio) são formadas por vários indivíduos especializados que parecem um só (sim, cada “tentáculo” é um bichinho que tem uma especialidade ali).
2. Sociedade – Cada Um Com Sua Função
Diferente da colônia, na sociedade os indivíduos são fisicamente separados, mas vivem em grupo, com cooperação e divisão de tarefas. O exemplo mais comum é o das abelhas, com suas rainhas, operárias e zangões. Igualmente, as formigas são verdadeiras engenheiras da natureza, com suas cidades subterrâneas, onde cada tipo de formiguinha tem uma função e um papel ali.
3. Competição Intraespecífica – Disputa em Casa
Quando os indivíduos da mesma espécie disputam recursos limitados, como alimento, abrigo ou parceiros. Aqui, podemos ter como exemplo os leões machos brigando por território ou por fêmeas; ou árvores da mesma espécie competindo por luz no topo da floresta (sim, planta também briga – embora não saia dando dentadas e nem coices por aí, mas elas também competem).



Relações Interespecíficas: Amigos, Inimigos e Parceiros
Aqui é o caos da coisa: às vezes organizado, às vezes no famoso “pega pra capar”. Isso significa dizer que aqui teremos relações pacíficas entre espécies diferentes (ao ponto de se tornarem parceiras), mas também teremos relações bem ruins (pelo menos para um dos lados da relação).
1. Mutualismo – Ajuda Que Vai e Volta (Harmônica)
Aqui, duas espécies se beneficiam mutuamente e em alguns casos, não conseguem mais viver uma sem a outra. Exemplo: as bactérias do nosso intestino que nos ajudam na digestão de alimentos (algo essencial para nós) e de quebra recebem uma moradia “0-800” aqui dentro de nós.
2. Protocooperação – Parceria Opcional (Harmônica)
a Protocooperação é a forma de relação ecológica que eu mais gosto e mais admiro, pois aqui ambas as espécies se ajudam, mas podem viver separadas – O que quer dizer que uma não depende da outra para a sua sobrevivência, mas rola uma troca de favores bacana. Por exemplo: o pássaro-palito que limpa os dentes do crocodilo. Sim, o crocodilo fica lá com a boca aberta para o passarinho limpar. Isso é bom para o crocodilo, pois diminui acúmulo de restos de alimento (evitando infecções, por exemplo) e é bom para o pássaro, pois ganha alimento. Outro exemplo é o boi e o anum, onde a ave come parasitas do boi (carrapatos). Aqui, de igual forma os dois ficam felizes, pois o boi se alivia dos parasitas e a ave se alimenta.
3. Comensalismo – Um Ganha, o Outro Nem Sente (Harmônica)
Nesta relação, uma espécie se beneficia, e a outra não é prejudicada nem beneficiada. Ou seja, para a outra espécie, simplesmente “tanto faz”. Por exemplo: peixes-piloto e rêmoras que nadam ao lado de tubarões para se alimentar dos restos (no caso da rêmora, ela chega a se fixar com suas ventosas no tubarão e, de quebra, ainda pega uma carona). Outro exemplo é o dos urubus que comem carniças deixadas por outros animais (afinal, o predador já abate, já comeu e se saciou. O resto que ficou já não importa mais para ele, então quem lucra é o urubu).
4. Inquilinismo – Morar sem Incomodar (Harmônica)
Nessa forma de relação ecológica, uma espécie vive dentro ou sobre outra, apenas usando como abrigo. Por exemplo: algumas espécies de samambaias, orquídeas e bromélias epífitas que crescem sob outras plantas para obter luz e abrigo (sem prejudicar a outra planta).
5. Competição Interespecífica – Briga da Galera Diferente (Desarmônica)
Aqui, duas espécies diferentes disputam pelos mesmos recursos. Exemplo: lobos e raposas competindo por presas em comum; ou plantas invasoras competindo com a vegetação nativa por espaço e nutrientes.
6. Predação – Caçador e Presa (Desarmônica)
Bem, aqui um vai de abraço e o outro come, ou um vive e o outro passa fome. Isso significa que para um será benéfico e para o outro será ruim. Exemplo: Leão e zebra, orcas e focas, jacaré e peixe… Enfim, tudo que envolve um predador e uma presa, onde, independente do resultado, um sempre vai levar a pior.
7. Parasitismo – Um Vive, o Outro Sofre (Desarmônica)
O parasita se beneficia enquanto prejudica seu hospedeiro, mas sem matá-lo rapidamente (senão, perde o abrigo). Aqui vale bem o exemplo daquela danada da lombriga que adora um intestino de uns coitados. Ela se beneficia com alimentos e abrigo, mas seu hospedeiro sofre, perdendo peso e nutrientes (a depender, levando-o a dormir para sempre, se é que você me entende).
8. Amensalismo – Um Impede, o Outro se Lasca (Desarmônica)
Uma espécie prejudica a outra sem se beneficiar com isso. É isso mesmo, aqui uma espécie só vai causar problema para outra, sem necessariamente isso ser benéfico para ela, sem tirar alguma vantagem disso. Por exemplo: Árvores grandes que crescem e impedem (com suas copas) que a luz solar chegue à espécies menores, prejudicando-as.






A natureza é como uma grande teia viva, onde cada fio representa uma relação ecológica. Quando um fio se rompe, todo o equilíbrio pode ruir. Por isso, entender essas relações é fundamental para preservar a vida no planeta.
Da colaboração mais harmoniosa à competição mais selvagem, as interações entre os seres vivos são um lembrete de que, nesse mundo, ninguém vive isolado. Tudo, absolutamente tudo, está conectado neste ciclo sem fim.
Referências Bibliográficas
UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.
AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.