Biológicas Educa

Tudo Sobre Células Eucariontes: Estruturas e suas Funções

Por: Isabela T. Meyer (Bióloga e Professora de Biologia) 

Última atualização em  07/04/2025

Introdução

As células eucariontes (ou eucarióticas) são unidades estruturais vivas complexas que formam organismos como animais, plantas, fungos e protistas. Conforme vimos anteriormente no nosso artigo sobre “O que são Células?“, diferentemente das células procariontes, as células eucariontes possuem uma riqueza de membranas, o que as permite ter um núcleo definido e organelas membranosas especializadas

Existem quatro tipos de células eucariontes que são classificados de acordo com os organismos aos quais elas pertencem: a célula animal, a célula vegetal, as células dos fungos e as células dos protistas. Neste artigo abordaremos mais especificamente sobre as células animal e vegetal. 

A Célula Animal

Para começarmos a falar sobre a célula animal, precisamos entender que existem diferentes tipos de células animais, com formatos e funções distintas dentro de um mesmo organismo.

Para facilitar o nosso entendimento, imagine que o organismo é como uma grande cidade. Assim, como em uma metrópole, onde cada pessoa tem uma profissão, as células animais se especializam em funções diferentes. Os neurônios, por exemplo, são os mensageiros velozes do sistema nervoso, transmitindo impulsos elétricos como se fossem fios de alta tensão. Já as hemácias (ou glóbulos vermelhos), são como cargueiros dedicados, levando oxigênio para cada cantinho do corpo. E não podemos esquecer das células musculares, verdadeiras atletas que se contraem e relaxam para nos manter em movimento – seja para correr uma maratona ou apenas piscar os olhos. Tem também as células epiteliais, que formam uma barreira protetora como um exército em formação, e os macrófagos, os “lixeiros” do organismo, sempre prontos a engolir invasores indesejados. Cada uma dessas células, com sua forma e função única, trabalha em harmonia para nos manter vivos e ativos.

Todavia, esse trabalho harmonioso que as células desempenham em conjunto só possível porque cada célula tem dentro de si estruturas essenciais que orientam e coordenam o seu funcionamento de forma exemplar. Cada uma dessas estruturas é especializada em uma determinada função que saberemos logo abaixo.

Figura 1. Células Musculares
Figura 2. Células Sanguíneas

As Estruturas das Células Animais: Organelas Celulares

Membrana Plasmática

A membrana plasmática é uma camada lipoproteica que envolve a célula, separando o seu meio interno (intracelular) do meio externo (extracelular). Ela é formada por, basicamente, por bicamadas lipídicas que, por sua vez, são compostas majoritariamente por fosfolipídios (moléculas lipídicas) e moléculas proteicas (para saber mais, veja nosso artigo sobre “O que é o Modelo do Mosaico Fluido?”). Ela é fundamental para a célula, não só porque a protege, mas também por ser responsável pelo controle e seleção da entrada e saída de substâncias na célula.

 

Citoplasma

O citoplasma nada mais é que o “interior da célula“, por assim dizer. Ele é formado por um líquido gelatinoso (o hialoplasma) e é nele onde nós encontramos as estruturas celulares essenciais para o crescimento e funcionamento da célula (reações metabólicas). 

 

Núcleo

Ao centro da célula eucarionte nós temos o núcleo. Ele é como um grande maestro regendo uma ópera: é ele quem vai controlar e orientar as atividades que a célula precisa desempenhar. Ele é composto por uma membrana externa porosa chamada de carioteca (ou envoltório nuclear), pela cromatina e pelo nucléolo.

A carioteca é uma membrana dupla e porosa que envolve externamente o núcleo, participando do transporte seletivo de entrada e saída de macromoléculas do núcleo para o citoplasma e vice-versa (por isso ela é porosa). Já a cromatina é a junção do material genético (DNA) e proteínas (as histonas). Nessa junção, partes da molécula de DNA se encontram enroladas nas histonas, formando uma estrutura chamada de nucleossomo. Esse arranjo, por assim dizer, permite que o DNA fique mais compactado e caiba perfeitamente dentro do núcleo celular. Além disso, a cromatina vai influenciar no acesso às informações do DNA e sua transcrição (leitura) sendo dividida em duas partes: a eucromatina (região em que o DNA está mais frouxo e menos enrolado nas proteínas, portanto ativo para transcrição dos genes) e a heterocromatina (região em que o DNA está mais enrolado às histonas, compactado e condensado, sendo inativa a sua leitura).

Ainda dentro do núcleo, nós temos o nucléolo: formações arredondadas constituídas por rRNA e proteínas, cuja principal função é produzir e estruturar os ribossomos. 

Figura 3. Representação ilustrativa genérica de uma célula animal e suas principais estruturas.
Retículo Endoplasmático

O retículo endoplasmático é como uma grande parede de tubos membranosos que preenche boa parte do citoplasma dos eucariontes. Ele é divido em duas partes: o retículo endoplasmático rugoso (ou granuloso) e o retículo endoplasmático liso (ou não-granuloso). 

O retículo endoplasmático rugoso (ou granuloso) recebe essa nomenclatura por possuir ribossomos aderidos à sua superfície. Ele tem a função de atuar na produção de determinadas proteínas celulares e também no seu transporte pelo citoplasma. Essas proteínas podem ter alguns destinos como: a secreção para o meio extracelular (que seria como uma “exportação de encomendas”, no caso essas proteínas seriam as encomendas que são enviadas para o exterior da célula), ou podem atuar como parte das membranas celulares (e outras), ou serão transformadas em enzimas lisossômicas e atuarão na digestão celular.

O retículo endoplasmático liso (ou não-granuloso) recebe esse nome por não possuir ribossomos na sua superfície. Ele é responsável pela produção de ácidos graxos (substâncias orgânicas que formam as gorduras e óleos), fosfolipídios e esteroides. Nele, há enzimas capazes de alterarem as moléculas de determinadas substâncias consideradas tóxicas para o corpo (como o álcool, por exemplo), de forma a inativá-las e facilitando a sua expulsão do corpo

 

Complexo de Golgi

O complexo de golgi (ou complexo golgiense) é uma  estrutura celular formada por 6 a 20 bolsas membranosas e achatadas chamadas de cisternas, que ficam empilhadas umas sobre as outras. Ele é responsável por receber as proteínas enviadas pelo retículo endoplasmático rugoso para serem secretadas para o meio extracelular (então imagine que ele é como o correios recebendo encomendas destinadas à exportação). Essas proteínas chegam ao complexo de golgi por meio de vesículas de transição que saem do retículo e se fundem às paredes das cisternas do complexo de golgi, liberando dentro delas as proteínas. Lá dentro elas serão separadas, empacotadas em bolsas membranosas e enviadas para o exterior da célula (onde atuarão). Ele também será responsável pela formação dos lisossomos.

 

Lisossomos

Os lisossomos são como bolsinhas membranosas ricas em enzimas digestivas. Essas enzimas são capazes de digerir uma vasta quantidade de substâncias orgânicas. Existem mais de 80 tipos dessas enzimas e cada uma será responsável por digerir um tipo de substância. Por exemplo: as enzimas nucleases digerem moléculas de DNA e RNA, as proteases digerem as proteínas, as lipases digerem os lipídios, dentre outras. 

Conforme vimos, os lisossomos são produzidos a partir de bolsas que brotam e se desprendem do complexo de golgi. Assim que são formados, eles recebem o nome de lisossomos primários, pois não iniciaram ainda as suas funções de digestão dentro da célula. Quando se fundem com fagossomos e pinossomos (organelas celulares), eles formam os vacúolos digestivos (ou lisossomos secundários). Durante o processo de digestão celular, as enzimas dos lisossomos vão ter efeito sob substâncias que são capturadas, de forma a reduzir o seu tamanho, tornando-as capazes de atravessarem a membrana do vacúolo digestivo e saírem para o citosol. Lá no citosol, elas serão utilizadas seja como matéria-prima para formação de outras substâncias, ou como fonte de energia para demais processos celulares. 

 

Mitocôndrias

São estruturas alongadas com um formato em bastonete, presentes em quase todas as células eucarióticas. Ela é essencial para a funcionalidade celular, pois é na mitocôndria que a célula produz a molécula de ATP que atua como moeda energética da célula. Neste sentido, podemos imaginar a mitocôndria como usinas de energia, que queimam nutrientes para gerar ATP e efetuar a respiração celular (veja mais em “Ciclo de Krebs e Respiração Celular”). 

Essas estruturas são desenhadas por duas membranas. A membrana externa é lisa como muitas das demais membranas celulares. Já a interna é cheia de dobras e pregas, com uma composição química diferenciada, recebendo o nome de cristas mitocondriais e se projetam para o interior da organela. O seu interior é preenchido por um líquido viscoso chamado de matriz mitocondrial e nele podemos encontrar moléculas de DNA, RNA, além de enzimas e ribossomos menores. Sim, a mitocôndria tem o seu próprio DNA (DNA mitocondrial)! 

Para se formar novas mitocôndrias é necessário o processo de autoduplicação de mitocôndrias que já existem. Algo que será importante quando virmos sobre o processo de divisão celular. 

Outra coisa interessante sobre as mitocôndrias é que, em animais e plantas com reprodução sexuada, essas organelas serão sempre de origem materna. O que significa dizer que todas as mitocôndrias que você tem no seu corpo vieram da sua mãe. Isso acontece porque, apesar das células reprodutoras masculinas (gametas masculinos) terem mitocôndrias, elas se degeneram logo após a fecundação. Portanto, todas as mitocôndrias que do zigoto e do indivíduo a ser formado são herdadas apenas da célula reprodutora feminina (gameta feminino).

 

Peroxissomos

Os peroxissomos são organelas membranosas cuja função principal é a oxidação de ácidos graxos que serão utilizados para formar colesterol e outros compostos importantes. Além disso, os peroxissomos contêm diferentes tipos de enzimas oxidases; enzimas que utilizam o oxigênio para oxidar substâncias orgânicas e tóxicas para o corpo.

 

Ribossomos

Os ribossomos são pequenas estruturas granulares não membranosas compostas por RNA e proteínas. A principal função dos ribossomos é fazer a síntese proteica a partir das informações advindas do RNA mensageiro. Ou seja, simplificando, os ribossomos fazem uma “leitura” das informações que vêm com o RNA mensageiro e, a partir delas, eles produzem as proteínas necessárias para a célula.

A Célula Vegetal

Imagine uma minúscula usina de energia, armazém e fortaleza tudo em um só lugar – é exatamente isso que a célula vegetal é! Enquanto as células animais se espremem em formatos flexíveis, as células vegetais são verdadeiras fortalezas, protegidas por uma parede rígida e estruturas altamente especializadas que fazem das plantas os seres mais resistentes e autossuficientes do planeta. 

Células vegetais microscópio
Figura 5. Células Vegetais.

Assim como a célula eucariótica animal, a célula eucariótica vegetal também apresenta estruturas complexas como: núcleo, mitocôndrias, retículos endoplasmáticos, complexo de golgi e ribossomos. Entretanto, ela se destaca por apresentar, além destas, outras estruturas altamente especializadas que são essenciais para a sua sobrevivência e funcionamento como: o vacúolo central, os plastos e a parede celulósica. Conheceremos melhor cada uma dessas estruturas logo a seguir. 

 

Parede Celular

A parede celular da célula eucariótica vegetal (também denominada parede celulósica) é como se fosse uma muralha de proteção que envolve a célula, dando forma, sustentação e segurança. Feita principalmente de celulose, essa parede rígida age como um escudo protetor, mantendo a célula firme. Sem ela, a planta murcharia, perdendo a forma e a força.

 
Plastos

Os plastos são organelas presentes somente em algas e plantas. Eles podem ser classificados como leucoplastos (são incolores e com a principal função de armazenar amido), cromosplastos (colores amarelo ou vermelho, cuja função é ainda um mistério e pouco conhecida, mas sabemos que participam na coloração de alguns frutos, flores e até folhas) ou cloroplastos (verdes). 

Os cloroplastos são repletos de clorofila, (um pigmento capaz de captar a luz solar) e são os cloroplastos que fazem a fotossíntese acontecer: transformam luz em vida. É ali que a mágica acontece: gás carbônico e água viram glicose e oxigênio. Podemos dizer que os cloroplastos são os grandes alquimistas das plantas.

 
Vacúolo Central

O vacúolo central é uma estrutura enorme que ocupa boa parte do espaço celular e funciona como um depósito multifuncional. Ele guarda água, sais minerais, pigmentos, toxinas e outras substâncias. Ele também ajuda a manter a pressão interna da célula, a chamada turgescência, que mantém a planta firme, erguida e cheia de vida.

Figura 6. Representação ilustrativa genérica de uma célula vegetal e suas principais estruturas.

A célula vegetal, com toda sua estrutura fascinante, é a base de tudo o que é verde no planeta. É nela que a vida começa, que a energia é produzida, que o oxigênio é liberado e que os alimentos são gerados. Igualmente incríveis, as células dos animais exibem uma fantástica flexibilidade. Cada tipo tem sua missão, e cada organela trabalha sem descanso para nos manter saudáveis. Seja no cérebro, no sangue ou nos músculos, elas são a base de tudo o que somos. 

Referências Bibliográficas

GANEO, A. L. et al. Células: uma breve revisão sobre a diversidade, características, organização,
estruturas e funções celulares. UNISANTA Bioscience Vol. 8 nº 4. p. 457-465, 2019

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 9° edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.

AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.