Biológicas Educa

O Ciclo de Krebs e A Respiração Celular

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia)

Última atualização em 04/06/2025

Introdução

Você já parou para pensar de onde vem a energia que te faz levantar da cama, correr, pensar ou até mesmo sonhar? Pois é, por trás de cada movimento seu, existe um verdadeiro espetáculo bioquímico acontecendo dentro de você: a respiração celular. E no palco principal desse show, brilha um ciclo com nome de um cientista: o Ciclo de Krebs, também chamado de ciclo do ácido cítrico ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos.

Hoje vamos mergulhar no interior das nossas células e entender como cada molécula de glicose vira combustível puro para o nosso corpo. 

 

O Que é A Respiração Celular?

Ok, vamos começar por partes e entender os conceitos, para depois adentrarmos no processo em si, beleza? 

Para isso, vamos imaginar uma usina elétrica em miniatura dentro de cada célula. Essa usina aqui se chama mitocôndria, uma organela celular eucarionte responsável pela maior parte da produção de energia da célula (e você pode saber mais sobre as mitocôndrias e outras organelas no nosso artigo “Tudo Sobre Células Eucariontes: Estruturas e Funções“). É aqui que a “magia” acontece: os nutrientes advindos dos alimentos que você come, como a glicose, são transformados em uma moeda energética chamada ATP (adenosina trifosfato) e essa moeda energética é extremamente importante para a nossa célula e nosso corpo, pois é o ATP quem fornece energia para a realização dos processos celulares, como a contração muscular e a síntese de proteínas, por exemplo. A esse processo todo, nós atribuímos o nome de Respiração Celular. 

Muito bem, agora que vimos alguns conceitos importantes, podemos aprofundar melhor no processo de respiração celular, que é dividido, basicamente, em três etapas (que veremos melhor a seguir):

  • Glicólise – Ocorre no citoplasma e quebra a glicose em duas moléculas de ácido pirúvico;

  • Ciclo de Krebs – Acontece na matriz mitocondrial e refina os produtos da glicólise;

  • Cadeia Respiratória (ou Fosforilação Oxidativa) – Onde o “grosso” do ATP é gerado com a ajuda do oxigênio;

 

Como Acontece a Glicólise?

Como vimos, a glicólise é o processo de quebra da glicose (um açúcar de 6 carbonos) em moléculas menores, liberando energia no caminho. Essa quebra gera duas moléculas de três carbonos, as quais chamamos de piruvatos. Nessa etapa da respiração celular:

  • A gente não precisa de oxigênio (e por isso é chamada de processo anaeróbico);

  • Ela ocorre no citoplasma de praticamente todas as células vivas;

  • É a mesma em organismos simples (como bactérias) e complexos (como humanos);

  • Gera energia na forma de ATP e moléculas ricas em elétrons (NADH).

A glicólise é tipo como uma corrida de revezamento, com dez etapas químicas coordenadas e catalisadas por enzimas específicas. Para facilitar a nossa compreensão, vamos dividir em duas fases:

 
FASE 1: Investimento de Energia (Fase de Preparação)

Aqui, a célula gasta energia (na forma de ATP) para preparar a glicose para ser quebrada. Se a gente for fazer uma comparação com finanças, seria como se a célula, literalmente, investisse uma pequena parte do seu “dinheirinho” (no caso, a sua moeda energética ATP) para obter um rendimento maior e lucro (mais moedas energéticas de ATP). Isso acontece em algumas etapas:

1. Fosforilação da glicose

  • A glicose (6 carbonos) recebe um fosfato vindo de 1 molécula de ATP, formando glicose-6-fosfato.

  • Essa fosforilação ativa a molécula e impede que ela saia da célula.

2. Isomerização

  • A glicose-6-fosfato é transformada em frutose-6-fosfato, uma molécula com a mesma fórmula, mas estrutura diferente (isômero).

3. Segunda fosforilação

  • Outro ATP é consumido, e a frutose-6-fosfato vira frutose-1,6-bifosfato (agora com dois grupos fosfato).

  • É como se a molécula estivesse “carregada” para a quebra.

4. Quebra da frutose-1,6-bifosfato

  • A molécula de 6 carbonos se divide em duas moléculas de 3 carbonos: Gliceraldeído-3-fosfato (G3P) e Dihidroxiacetona-fosfato (DHAP)

5. Conversão da DHAP em G3P

    • A DHAP é convertida em mais uma molécula de G3P.

    • Resultado: agora temos 2 moléculas de G3P prontas para seguir para a segunda fase.

  • A molécula de 6 carbonos se divide em duas moléculas de 3 carbonos: Gliceraldeído-3-fosfato (G3P) e Dihidroxiacetona-fosfato (DHAP)

6. Conversão da DHAP em G3P

  • A DHAP é convertida em mais uma molécula de G3P. Resultado: agora temos 2 moléculas de G3P prontas para seguir para a segunda fase.

 
FASE 2: Ganho de Energia (Fase da Recompensa)

Depois do investimento, agora é hora de colher os lucros: transformar os G3Ps em ácido pirúvico (ou piruvato), e no processo, gerar ATP e NADH. Temos, então:

7. Oxidação dos G3Ps

  • Cada G3P é oxidado, liberando elétrons que reduzem NAD⁺ → NADH.

  • Cada G3P vira 1,3-bisfosfoglicerato, que tem energia armazenada.

8. Formação de ATP

  • Cada 1,3-bisfosfoglicerato doa um fosfato ao ADP, formando ATP. Resultado: 2 ATPs formados (1 por G3P).

9. Reorganização

  • A molécula sofre rearranjos e vira 2-fosfoglicerato, e depois fosfoenolpiruvato (PEP), com ainda mais energia acumulada.

10. Formação do Piruvato

  • Cada PEP transfere seu fosfato para o ADP → mais 2 ATPs são produzidos, e temos 2 moléculas de piruvato (ou ácido pirúvico).

É, é muita coisa mesmo. Isso tudo foi só a glicólise; agora veremos o ciclo de Krebs.

Como Acontece o Ciclo de Krebs?

Depois que a glicose é quebrada na glicólise, cada molécula de ácido pirúvico entra na mitocôndria e se transforma em uma substância chamada acetil-CoA (acetil coenzima A). É ela quem dá a largada pro ciclo começar:

1. Formação do Citrato – O acetil-CoA (com 2 carbonos) se junta ao oxaloacetato (com 4 carbonos), formando o citrato, uma molécula de 6 carbonos;

2. Isomerização em Isocitrato – Depos, o citrato dá uma “virada” de leves na sua estrutura e vira isocitrato. Essa transformação é pequena, mas essencial para o ciclo seguir em frente;

3. Descarboxilação: Liberação de CO₂ – Aí, o isocitrato é quebrado, perde um carbono (em forma de dióxido de carbono — CO₂), e vira α-cetoglutarato. Aqui também é produzido o NADH, uma molécula que armazena energia;

4. Outra Descarboxilação – O α-cetoglutarato também se transforma, perdendo outro CO₂ e gerando succinil-CoA. Mais uma moedinha energética é formada: outro NADH;

5. Formação de GTP (ou ATP) – A succinil-CoA vira succinato, liberando energia suficiente para formar GTP, que pode virar ATP (o objetivo final da nossa respiração celular);

6. Oxidação do Succinato – O succinato perde elétrons e se transforma em fumarato, produzindo FADH₂, outro transportador de energia;

7. Hidratação – O fumarato recebe uma molécula de água e se transforma em malato;

8. Regeneração do Oxaloacetato – O malato é oxidado e vira novamente oxaloacetato, gerando mais um NADH. Assim, o ciclo pode recomeçar (é o ciclo sem fim!).

E Onde é Que Está a Energia?

Cada volta no ciclo rende uma produção valiosa:

  • 3 NADH

  • 1 FADH₂

  • 1 GTP (ou ATP)

  • 2 CO₂

E lembre-se: como a glicose gera 2 moléculas de ácido pirúvico, o Ciclo de Krebs acontece duas vezes para cada molécula de glicose.

Depois disso, os NADH e FADH₂ seguem para a cadeia respiratória, onde o oxigênio é o protagonista e o ATP é produzido em grande escala. No final, são cerca de 34 ATPs por glicose! É um lucro excelente, convenhamos. 

 

Algumas Curiosidades:

As plantas também fazem respiração celular, sabia? Mesmo produzindo oxigênio durante o dia (fotossíntese – como vemos no nosso artigo “Fotossíntese: O Que é e Como Funciona?“), elas usam esse oxigênio à noite para produzir ATP.

Além disso, quando temos alguma atividade física muito intensa (como a musculação, por exemplo), o corpo pode fazer respiração anaeróbica, produzindo ácido lático no lugar de CO₂ e água (aí é a hora que a gente sente aquela queimação nos músculos que faz a gente precisar de uma pausa). 

É, galera, eu sei que o estudo de hoje foi bem puxado, com muito nomezinho chato e processos que, infelizmente, vai ser um pouquinho de decoreba mesmo (é a vida). Mas entendam que o Ciclo de Krebs é como o coração da respiração celular; girando sem parar e alimentando todas as suas células com a energia vital. Sem ele, não há movimento, pensamento, emoção ou vida. É uma prova maravilhosa de como processos microscópicos podem ter impactos gigantescos!

 

Referências Bibliográficas

TAMIM, ALABDULADHEM O.; BORDONI, BRUNO. Physiology, Krebs Cycle. Nacional Library of Medicine. 23 de novembro de 2022. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK556032/. Acesso em: 4 de junho de 2025.

UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.

CURI, RUI et al. Ciclo de Krebs Como Fator Limitante na Utilização de Ácidos Graxos Durante o Exercício Aeróbico. Arq Bras Endocrinol Metab, Vol 47, nº 2. Abril, 2003.