Briófitas - Características, Reprodução e Ciclo de Vida

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia) – Última atualização em 13/05/2025
Introdução
Imagine um tapete bem verdinho sob nossos pés, onde seres minúsculos vivem uma saga milenar de resistência, adaptação e persistência. Bem-vindo ao incrível mundo das briófitas, as plantas que, embora pequenas, carregam nos tecidos uma história colossal da evolução terrestre.
Quem São as Briófitas?
Briófitas são plantas bem pequenas, geralmente com apenas alguns centímetros de altura, que não possuem vasos condutores de seiva (xilema e floema). Por isso, elas são chamadas de plantas avasculares. Mas não se engane pelo tamanho; Essas pequeninas dominam ambientes úmidos, desde florestas tropicais até paredões rochosos e até mesmo telhados de algumas casas.
Elas são divididas em três grupos principais:
Musgos (Bryophyta) – Os mais conhecidos, formando verdadeiros “tapetes verdes”.
Hepáticas (Marchantiophyta) – Com formato que lembra um fígado (por isso o nome).
Antóceros (Anthocerotophyta) – Menos comuns, com estruturas alongadas que parecem pequenos chifres.

Anatomia das Briófitas
Diferente das plantas vasculares, as briófitas não têm raízes, caules ou folhas verdadeiras. Em vez disso, elas possuem estruturas adaptadas (que são parecidas, mas não são exatamente a mesma coisa destas outras estruturas):
Rizoides – Filamentos que fixam a planta no solo, mas não absorvem água como raízes.
Cauloides – Pequenas hastes que sustentam a planta.
Filoides – Estruturas parecidas com folhas, porém finas e sem vasos condutores.
Esporófito – Uma estrutura que cresce do gametófito e produz esporos. Ele depende totalmente do gametófito para sobreviver.
Gametófito – É a fase dominante no ciclo de vida das briófitas, aquela verdinha que vemos com mais frequência.
Agora você pode estar se perguntando: “Ué, mas então como elas sobrevivem sem raízes?” A água é absorvida diretamente pelas células, num processo lento e dependente da umidade do ambiente. Por isso, você nunca verá um musgo no deserto.
Reprodução e Ciclo de Vida das Briófitas
Muitas briófitas se reproduzem de formas assexuada por fragmentação (quando pedacinhos de uma planta conseguem gerar novas plantas). No caso das hepáticas e dos antóceros, os gametófitos podem se partir (eventualmente) dando origem a novos gametófitos que crescem expandindo as bordas do seu corpo.
No entanto, a maioria das briófitas é dioica, o que significa dizer que existem plantas com estruturas masculinas (que chamamos de anterídios) e plantas com estruturas reprodutoras femininas (que chamamos de arquegônios) – É tipo dizer que existem briófitas “machos” e briófitas “fêmeas”. Porém, eu acho importante dizer que existem algumas espécies que são monoicas, ou seja, uma única planta poderá ter ambas estruturas reprodutoras (masculina e feminina).
Muito bem, agora que conhecemos as formas de reprodução e as suas estruturas reprodutoras vamos aprofundar e vê-las em ação no ciclo de vida dessas plantinhas:
Bem, um dos aspectos interessantes das briófitas é que elas alternam entre duas formas de vida: uma fase gametofítica (a fase dominante) e uma fase esporofítica (fase curta e dependente):
1. Fase Gametofítica – A Fase “Verde”
Nessa etapa, a planta é haploide (ou seja, com um único conjunto de cromossomos) e produz gametas:
Arquegônios – Estruturas femininas que produzem óvulos. Aqui, nós temos uma célula em específico que cresce e se diferencia (à ela demos o nome de oosfera)
Anterídios – Estruturas masculinas que liberam espermatozoides (que chamamos de anterozoides). Os anterozoides são um pouco diferentes dos espermatozoides que conhecemos do reino animal; aqui, eles têm dois flagelos (dois rabinhos) que o ajudam a chegar até a oosfera.
Como não há vento ou animais para ajudar, a água é essencial para que os anterozoides nadem até a oosfera. Após fecundada (a oosfera), nós temos um zigoto diploide, que vai passar por algumas mitoses, gerando o embrião.
O embrião das briófitas se desenvolve ali dentro do arquegônio, sobre a planta-mãe, e dela ele recebe vários nutrientes (lembra vagamente uma gestação, sabe?).
2. Fase Esporofítica (A Fase “Reprodutora”):
Oembrião, então, dá origem ao esporófito, uma estrutura diploide que cresce sobre o gametófito. Ele produz os esporos (células haploides) dentro de uma cápsula chamada esporângio. Quando maduros, os esporos são liberados no ar e, se caírem em um local úmido e favorável, eles germinam, formando novos gametófitos. E assim, o ciclo recomeça!


Pequenas, Mas Essenciais
Pode parecer exagero, mas sem as briófitas, muitos ecossistemas desabariam. Isso porque elas ajudam a reter a umidade do solo e evitam erosões; criam um microclima ideal para fungos, insetos e outros seres minúsculos e ainda servem como indicadores ambientais, pois algumas espécies são tão sensíveis à poluição que ajudam a monitorar a qualidade do ar. Isso tudo sem falar que, no ciclo da vida, elas preparam o solo para que outras plantas cresçam, atuando como colonizadoras em ambientes muitas vezes inóspitos.
Para além, foi graças às briófitas que toda a vida terrestre na Terra se desenvolveu tal como a conhecemos pela história e pela atualidade. Pois é, essas plantinhas avasculares foram as primeiras plantas a ocuparem o ambiente terrestre há milhões e milhões de anos, e foram elas que atraíram o olhar interessado de alguns peixinhos curiosos, obrigando-os a saírem da água para degustá-las, permitindo e facilitando o desenvolvimento dos vertebrados terrestres (e se você quer saber com mais detalhes sobre como tudo isso aconteceu, confira o artigo “As Eras Geológicas da Terra: Quais são, Duração e Características“).
As briófitas nos ensinam que ser pequeno não é sinônimo de ser insignificante. Elas sobrevivem em condições extremas, contribuem silenciosamente para a saúde dos ecossistemas e revelam um pedaço fascinante da história da vida na Terra. Por isso, da próxima vez que você ver um musgo no muro da sua casa, lembre-se: ali vive um ser milenar, resistente e um dos grandes protagonistas da evolução da vida terrestre.
Referências Bibliográficas
SILVA, L. T. P.; SILVA, A. G. Sistemas de reprodução em Briófitas: pequenas plantas com grande sucesso reprodutivo. Natureza Online, v. 11, n. 4, p. 155-160, 2013.
UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.
AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.