Biogênese e Abiogênese: O Que São e Qual a Diferença?

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia)
Última atualização em 16/05/2025
Introdução
Você já se perguntou de onde vem a vida? Não a sua, nem a minha; mas a vida em si, desde o comecinho dos tempos. Será que os seres vivos surgem do nada, como mágica? Ou será que toda forma de vida precisa nascer de outra já existente?
Essa dúvida que hoje parece simples foi, por séculos, um verdadeiro quebra-cabeça para cientistas, filósofos e curiosos do mundo inteiro. Prepare-se para embarcar numa viagem que atravessa laboratórios, frascos de vidro e ideias revolucionárias. Vamos entender de uma vez por todas a diferença entre Biogênese e Abiogênese, duas teorias que disputaram cabeça a cabeça o título de explicação mais convincente sobre a origem da vida.
Abiogênese: A Vida Surge Do Nada
Por muitos e muitos anos, as pessoas acreditaram que a vida poderia surgir espontaneamente da matéria bruta. Isso porque era comum pensar que vermes nasciam do barro, ratos brotavam do lixo e moscas apareciam magicamente sobre a carne podre. Essa crença era conhecida como Abiogênese (ou Geração Espontânea). Segundo ela, os seres vivos poderiam surgir do nada, sem precisar de “pais” ou qualquer outro ser vivo anterior. Simplesmente “Pá!”, surgiu.
A teoria da Abiogênese foi apoiada por nomes importantes da Antiguidade e Idade Média:
Aristóteles, o famoso filósofo grego, foi um dos primeiros a defender que a vida podia surgir da matéria sem vida;
Van Helmont (século XVII) – Chegou a propor uma “receita” para criar ratos: colocar uma camisa suja e trigo num canto escuro e… voilà! Surgiriam roedores. Durante séculos, essa ideia foi tida como “óbvia”, já que ninguém sabia sobre microrganismos e a ciência ainda “engatinhava” aos poucos.
Mas será que era mesmo assim? Bem, podemos dizer que uma das coisas mais bonitas na ciência e biologia é a possibilidade dos debates e confronto de ideias. À medida que a ciência avançava, novas evidências e conceitos surgiam; o que levou algumas pessoas à questionarem se a teoria da Abiogênese era realmente verídica.
Biogênese: A Vida Vem da Vida
Com o passar do tempo e a chegada de instrumentos como o microscópio, muitos cientistas começaram a duvidar dessa tal geração espontânea. Foi aí que surgiu a teoria da Biogênese, que afirma:
“Todo ser vivo só nasce a partir de outro ser vivo pré-existente.”
Ou seja, vida só surge de vida; nada de mágica, nada de surgimento do nada. E vários cientistas colocaram a mão na massa (literalmente) para comprovar essa ideia:
Francesco Redi (século XVII);
Lazzaro Spallanzani (século XVIII);
Louis Pasteur (século XIX), o “rei” dos microrganismos e das provas definitivas.
Aqui, vamos dar uma atenção especial ao Experimento de Redi e de Pasteur, pois ambos foram grandes marcos na ciência e que seus resultados ajudaram a construir a base dos estudos sobre a Vida que temos atualmente.
O Experimento de Redi: Desmascarando as “Moscas Mágicas”
Em 1668, o médico italiano Francesco Redi decidiu testar a tal ideia de que as moscas surgiam espontaneamente na carne podre. Ele fez um experimento que, à época, foi considerado revolucionário: Basicamente, Redi pegou pedaços de carne e os colocou em três tipos de frascos:
Frascos abertos – que foram deixados ao ar livre;
Frascos fechados com tampa;
Frascos cobertos com gaze fina – que deixava o ar passar, mas impedia a entrada de agentes externos.
O Que aconteceu? Bem, Nos frascos abertos, surgiram larvas (filhotes de mosca). Nos fechados, nada apareceu, ficou somente o pedaço de carne, tal qual o Redi havia colocado. Nos frascos com gaze, as moscas até pousavam, mas não conseguiam colocar ovos dentro e, claro, nenhuma larva surgiu na carne.
Com isso Redi concluiu que as larvas de moscas só podiam vir dos ovos das moscas que eram atraídas pela carne em decomposição e os depositava lá. Então não, não havia geração espontânea da vida. O que tínhamos eram condições atrativas que chamavam a atenção e atraíam esses insetos (que já existiam na natureza) para colocarem os seus ovos lá.
O Experimento de Pasteur e o Xeque-Mate à Abiogênese
Beleza, Redi já tinha conseguido demonstrar de forma muito lúdica sobre a invalidade da teoria da geração espontânea, mas ainda tinha uma galera que acreditava na abiogênese e ainda a defendia. Então, quase dois séculos depois, o francês Louis Pasteur deu a cartada final. Com frascos de vidro em formato de pescoço de cisne, ele criou um experimento elegante, bonito e definitivo.
Basicamente o que Pasteur fez foi: ele preparou caldos nutritivos (tipo um “sopão” rico em nutrientes) e os colocou em frascos com gargalo curvado em forma de “S”. Em seguida, ele ferveu os caldos para matar qualquer microrganismo ali presente e depois deixou os frascos abertos ao ar, mas com o gargalo impedindo a entrada direta de poeira e microrganismos do ar. Resultado? Nada cresceu nos caldos, mesmo após vários dias. Mas, quando ele quebrou o gargalo (permitindo a entrada de partículas do ar), os caldos se encheram de microrganismos. Ou seja, Pasteur concluiu que o ar contém micro-organismos invisíveis, e a vida não surge do nada. Se não há contaminação externa, nada aparece espontaneamente. A biogênese estava certa.

Mas Por Que Entender Isso Foi Tão Importante (e Ainda é Importante)?
Entender essa batalha de ideias ajuda a compreender como a ciência avança e avança a passos concretos: não basta acreditar – é preciso provar. Cada experimento, cada frasco, cada larva serviu para mostrar que a vida tem seus próprios caminhos e regras. Além disso, a base da biogênese é usada até hoje em áreas como:
Microbiologia;
Esterilização de alimentos e utensílios;
Conservação de vacinas;
Controle de infecções em hospitais.
Por séculos, o ser humano acreditou que a vida surgia como mágica. Mas foi com muita paciência, curiosidade e experimentos bem pensados que os cientistas mostraram: a vida tem origem em outra vida. E essa simples descoberta mudou tudo: da forma como pensamos os seres vivos até como armazenamos leite na geladeira. Por isso, da próxima vez que você ver uma mosquinha sobre a fruta ou um bolor no pão, lembre-se: isso não apareceu do nada. Foi a natureza seguindo seu roteiro, e não um truque de ilusionismo.
Mas… E como a primeira forma de Vida surgiu na Terra? Bem, isso ainda é discutido por muitos cientistas e não exatamente uma resposta única correta para essa pergunta. No entanto, temos algumas teorias bem fortes que explicam a possibilidade do surgimento da Vida no Planeta Terra e você pode conhecer mais pelo nosso artigo “A Teoria do Big-Bang e a Origem da Vida na Terra“.
Referências Bibliográficas
UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.
AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.