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Filo Arthropoda: Crustáceos - Anatomia, Fisiologia e Reprodução

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia)

Última atualização em 03/06/2025

Introdução

Se você já viu um caranguejo correndo de lado na praia, um camarão se escondendo entre as pedras ou uma lagosta grandalhona com suas garras imponentes, então você já teve o prazer de conhecer os crustáceos (e talvez até de degustá-los). Mas afinal, quem são essas criaturas de armadura viva que habitam os mares, rios e até mesmo a terra firme? Vamos mergulhar fundo na anatomia, fisiologia e reprodução desses bichinhos e conhecer melhor o seu papel na natureza.

 

O Surgimento: Quando a Vida Ganhou “Garras”

Tudo começou há centenas de milhões de anos, no grande palco pré-histórico onde a vida ensaiava os seus primeiros passos para formas mais complexas. Os crustáceos surgiram no período Cambriano, há cerca de 500 milhões de anos, como parte do grupo dos artrópodes. Com o passar das eras, essas criaturas passaram por tantas transformações que viraram um exemplo vivo da adaptação: desde os mares primordiais ao ambiente terrestre, estes animais desenvolveram mecanismos super interessantes que garantiram a sua sobrevivência no nosso Planeta. 

 

A Anatomia dos Crustáceos

Esses bichinhos possuem um corpo segmentado, com armadura natural (exoesqueleto de quitina), apêndices articulados e olhos que enxergam o mundo de forma panorâmica. Além disso, o seu corpo, geralmente dividido em cefalotórax (cabeça + tórax fundidos) e abdome, é como uma fortaleza ambulante, protegendo os seus órgãos vitais enquanto permite flexibilidade de movimento.

Eles possuem de 5 a 20 pares de apêndices, tais como: patas, antenas, garras e até estruturas modificadas para filtrar alimentos ou para natação (características que vão variar de acordo com a espécie de crustáceo). Tudo neles foi moldado para a eficiência: do modo como se locomovem até a maneira com que se camuflam ou caçam. 

Então bora fazer um resuminho para ficar bacana:

  • Corpo segmentado – Normalmente dividido em cefalotórax e abdome;
  • Exoesqueleto de quitina – Garante proteção e rigidez ao animal (ficam “durinhos”). Alguns crustáceos também apresentam uma estrutura que chamamos de “carapaça” (estrutura rígida com cutículas calcificadas que cobre o cefalotórax e dá ainda mais proteção ao animal – o caranguejo tem carapaça, por exemplo);
  • Olhos – Podem ser simples ou compostos (geralmente na fase adulta) e normalmente se encontram em hastes móveis;
  • Apêndices – são articulados e, a depender da espécies, podemos ter antenas, pernas e apêndices abdominais, garras e outras estruturas adaptadas.

 

 

Figura 1. Esquema Ilustrato Representando a Anatomia de um Caranguejo

A Fisiologia dos Crustáceos

Sistema Respiratório

Respirar debaixo d’água é um luxo que poucos podem desfrutar, e os crustáceos fazem isso com maestria. Seu sistema respiratório é, na maioria das vezes, baseado em brânquias (estruturas finas e vascularizadas que absorvem oxigênio diretamente da água). Contudo, em algumas espécies terrestres (como os tatuzinhos-de-jardim), essas brânquias evoluíram para estruturas adaptadas à umidade do solo, permitindo uma “respiração molhada”.

 

Sistema Digestório

O sistema digestório dos crustáceos é completo: da boca ao ânus. Eles começam o processo com peças bucais especializadas (mandíbulas que trituram, maxilas que direcionam o alimento e palpos que manipulam). O alimento segue para o estômago cardíaco, onde é triturado ainda mais por placas calcificadas, quase como se fossem dentes internos. Depois, ele passa para o estômago pilórico, onde enzimas entram em cena, graças ao auxílio de uma glândula digestiva, semelhante ao fígado e pâncreas. Por fim, os nutrientes são absorvidos e os resíduos são eliminados.

 

Sistema Circulatório

Você sabia que os crustáceos tem sangue de cor azul? Sim, eles têm “sangue azul”, literalmente! O sangue dos crustáceos contém hemocianina, uma proteína rica em cobre que, quando oxigenada, adquire coloração azulada. Mas seu sistema circulatório é aberto, o que significa que o “sangue” (ou melhor, a  hemolinfa) circula em cavidades ao redor dos órgãos, e não em vasos fechados como o nosso. Além disso, o coração é geralmente dorsal e bombeia essa hemolinfa para todo o corpo, mantendo tudo funcionando.

 

Sistema Nervoso

Apesar de pequenos (embora alguns nem tão pequenos assim; Austrália quem nos diga), os crustáceos têm um sistema nervoso bem elaborado. Com um cérebro simples, mas funcional, eles são capazes de executar comportamentos complexos, tais como: camuflagem, caça, defesa e até comunicação por sinais químicos e movimentos. Esse sistema nervoso se estende pelo corpo através de um cordão nervoso ventral com gânglios segmentares. Pense nisso como uma central de controle com estações locais para cada parte do corpo.

 

A Reprodução dos Crustáceos

A maioria dos crustáceos se reproduz sexualmente, com fertilização interna ou externa, dependendo da espécie. As fêmeas geralmente carregam os ovos sob o abdome até o momento da eclosão. Em algumas espécies, o cuidado parental é tão intenso que lembra comportamentos de animais bem mais complexos!

Os filhotes dos crustáceos podem nascer como versões em miniatura dos adultos, ou passar por fases larvais – como a nauplius, um estágio que flutua à mercê das marés até crescer o suficiente para tomar as rédeas do próprio destino.

Figura 2. Nauplius Crustacea
Figura 3. Fêmeas de Caranguejo-Onça-Pintada (Xantho poressa) Carregando seus Ovinhos no Abdome

Crustáceos são muito mais do que comida no prato ou criaturas que pinçam nossos dedos desavisados. Eles são obras da evolução e guardiões de ecossistemas aquáticos e terrestres. Com uma anatomia afiada e sistemas fisiológicos finamente ajustados, eles continuam reinando discretamente nos cantos mais úmidos, profundos e molhados do nosso Planeta. 

 

Referências Bibliográficas

UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.

AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.