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Filo Mollusca: Bivalves - Anatomia, Fisiologia e Reprodução

Por: Isabela T. M. (Bióloga e Professora de Biologia)

Última atualização em 09/05/2025

Introdução 

Você já parou para pensar no que se esconde sob a areia das praias ou agarrado às pedras dos rios? Muitas vezes passamos por eles sem dar bola, mas os bivalves guardam histórias de milhões de anos e segredos incríveis sobre a vida marinha e dulcícola. Venha comigo mergulhar no universo de ostras, mexilhões, mariscos e vieiras com um olhar curioso e descomplicado.

 

O Quem São os Bivalves? Como é a Sua Anatomia?

Os bivalves são moluscos que, ao contrário de seus primos caracóis e polvos, não têm cabeça e nem uma estrutura definida como olhos e tentáculos. Em vez disso, seu corpo está escondido dentro de duas conchas que se articulam como uma caixinha do tesouro. Daí o nome “bivalve”: “bi” de dois e “valve” de válvulas ou conchas.

Esses animais estão presentes em praticamente todos os ambientes aquáticos do planeta, do fundo lodoso dos rios ao fundo escuro do oceano; filtrando a água, reciclando nutrientes e servindo de alimento para uma infinidade de espécies, inclusive para nós (pelo menos, para quem gosta). 

E Como Funciona o Corpo desses Bichinhos?

Sistema Digestório

O sistema digestório dos bivalves é um verdadeiro engenho de purificação. Eles se alimentam por filtração: a água entra pelo sifão inalante, rica em partículas orgânicas e micro-organismos. Essas partículas são capturadas por cílios presentes nas brânquias, que além de respirar, também ajudam na alimentação. O alimento segue para a boca, passa por um esôfago e chega ao estômago, onde enzimas fazem a mágica da digestão. Um órgão curioso chamado cristal estilóide gira dentro do estômago como um batedor de bolo, misturando e ajudando na digestão. Depois disso, os nutrientes vão sendo absorvidos e o que sobra é eliminado pelo ânus, que se abre próximo ao sifão exalante.

 

Sistema Respiratório

Respirar embaixo d’água parece difícil, mas os bivalves tiram isso de letra, graças às suas brânquias. Além de ajudarem na alimentação, elas capturam o oxigênio dissolvido na água e o enviam para o sangue, num processo simples, porém vital. O movimento dos cílios nas brânquias mantém a água circulando, garantindo que o oxigênio esteja sempre fresquinho.

 

Sistema Circulatório

O sistema circulatório dos bivalves é aberto. Isso quer dizer que o sangue, ou melhor, a hemolinfa, não circula apenas por vasos, mas também banha diretamente os órgãos. O coração tem três câmaras (duas aurículas e um ventrículo) e bombeia a hemolinfa que, mesmo sem glóbulos vermelhos, cumpre bem seu papel de transporte de nutrientes e gases.

 

Sistema Nervoso

Se você está imaginando um cérebro aqui, pode esquecer… O sistema nervoso dos bivalves é bem simples. Eles possuem gânglios nervosos (espécies de “mini-centros de comando”) conectados por nervos. Não têm grandes capacidades cognitivas, mas são capazes de reagir a estímulos como luz, toque e substâncias químicas. Vieiras, por exemplo, têm olhos rudimentares na borda da concha que percebem mudanças de luz.

Reprodução: Como é o Love dos Bivalves?

Os bivalves são mestres da multiplicação. A maioria das espécies é dioica, ou seja, há machos e fêmeas separados. Durante a época da reprodução, eles liberam óvulos e espermatozoides na água. O encontro dos gametas nesse baile microscópio resulta em uma larva chamada véliger, que flutua livremente até se fixar no substrato e crescer.

Algumas espécies, como mexilhões de água doce, têm truques especiais: suas larvas parasitam peixes temporariamente, se desenvolvendo nas brânquias deles até estarem prontas para a vida independente. 

 

O Nascimento de Uma Pérola: Um Acidente Precioso

As Pérolas são joias naturais estimadas pelos humanos há séculos e criadas no silêncio do fundo do mar. Mas como exatamente uma ostra transforma um grão de areia em uma gema brilhante? 

Bem, tudo começa com a entrada de um invasor (pode ser um grão de areia, um parasita, ou pedacinho fragmentado de concha, por exemplo). Esse agente externo invasor é logo percebido pelo manto do animal (que é o tecido que reveste a concha), que se irrita e aciona um “sistema de defesa”. Esse “sistema de defesa” secreta carbonato de cálcio e uma proteína chamada conchiolina, que se cristalizam em camadas sobre o invasor (tipo como se construíssem uma pequena prisão ou gaiola em torno dele) e assim, camadas de nácar (madrepérola) são depositadas. Aos poucos, camada sobre camada, o corpo da ostra vai criando uma pérola (sim, é um processo que leva um tempinho mesmo… é como se ela dissesse “agora que tu entrou, tu vai ficar aqui pra sempre”.

Mas nem todos os bivalves produzem pérolas. A maioria dos que produzem estão nos mares, porém também temos alguns em água doce (embora suas pérolas não sejam tão brilhantes e bonitas quanto às pérolas marinhas). Hoje, a maioria das pérolas vendidas no mercado são cultivadas, ou seja, o ser humano insere intencionalmente um fragmento de material (geralmente uma esfera de concha) dentro da ostra para estimular a formação da pérola. 

Figura 1. Ostra com Pérolas

Apesar de viverem em silêncio, enterrados ou agarrados às rochas, os bivalves são protagonistas discretos dos ecossistemas aquáticos. São filtros vivos, guardiões da qualidade da água e peças-chave na engrenagem ecológica. Com sua anatomia engenhosa e estilo de vida singelo, nos lembram que até os seres mais simples carregam histórias complexas e interessantes.

 

Referências Bibliográficas

UZUNIAN, A.; BIRNER, E. Biologia: volume único. 3a ed. São Paulo: Harbra, 2008.

HWANG, JIUAN JIUAN; et al. Growth of wild pearl oysters Pinctada fucata, Pinctada margaritifera and Pinctada sugillata (Bivalvia: Pteriidae) in Taiwan. Fisheries Science, v. 73, p. 132-141, 2007.

AMABIS, J. M. & MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. Volume único. Editora Moderna, 4° edição. São Paulo, 2006.